Na primeira trégua da chuva observei o "jardim", misturado as flores da estação vi o que pareciam cebolas, mais adiante cenouras e num canto próximo a mureta de pedras o baraço denunciava batatas, tudo misturado denunciando que a horta havia sido abandonada em meio a produção e continuara a se multiplicar ano após ano de uma forma misteriosa.
Bom pra mim que tinha poucas moedas na bolsa e uma fome imensa dentro de casa.
A lenha amontoada na cozinha seria suficiente para alguns dias então continuei no entorno até uma porta que se abriu com uma das chaves que encontrei no prego acima do fogão.
Uma pá e uma enxada ao lado de alguns baldes me esperavam silenciosos.
Alguém lá encima cuidava de mim!
Ajoelhada no chão tirando cenouras da terra esqueci a vigilância até ser surpreendida pela mulher com ancinho junto ao muro. Não muito mais velha que eu, mas mais desconfiada que eu, me observa.
-Bom dia!
- Quem é vc? - Já vi que ia ser difícil! nem pude responder e a enfiada de palavras foi disparada.
-Como vc entrou na casa de Marta? oque queres aqui? não mexa nas verduras!
- Bem uma coisa de cada vez ! eu disse me levantando e pegando o balde com as verduras e ervas que ja tinha colhido.
-Venha, entre comigo!
Na porta deixei o sapatos e entrei com as verduras em direção a mesa, por sorte quando cheguei pus todas as vasilhas que encontrei na chuva e então tinha alguma água.
Lavei as ervas e pus na chaleira sob o fogo, quando ferveu pus duas xicaras na mesa.
Me sentei e disse :-Pronto agora eu responderei.
- Entrei pela porta da frente com a chave que Marta deixou para meu filho! Então a casa é dele. Viemos viver aqui por isso. E quanto as verduras pelo que vi crescem como mato então posso colher, mas se vc as quer não tem problema podemos dividir.
Ela já tinha observado tudo desde o chão limpo até a panela no fogo com agua pra sopa. Mas só vira o bebe quando eu falei em filho.
Sem me olhar caminhou até a cesta enquanto dizia : Atrás da casa tem um córrego e a agua ainda é boa! O menino sonolento abriu os olhos e sorriu. O sorriso que sempre me salva.
-Soube que havia fumaça na casa e vim verificar. Marta disse que um dia voltaria e como não deixou a chave fiquei esperançosa de que a encontraria aqui.
- Imagine o susto que levei! Pôs a metade do que colhi no regaço do avental e foi pra porta. Ao sair disse-me ainda.
Vamos manter quintal do jeito que esta! A lei aqui diz que metade do que vc planta é do Condado e o que vc colhe no "mato " é tudo seu e saiu pela porta.